A televisão está desligada, e o controle remoto que cessaria
o silêncio daquela sala de memórias está longe demais pra alcançá-lo, ou só
seja mais uma dessas desculpas que damos pra nós mesmos pra deixar tudo como está,
que cena deplorável. A agenda telefônica indica a falta de amigos, ou melhor, a
abundância deles.
Sentir-se sozinho não é uma sensação agradável que preenche
o coração, do contrário te esvazia e te deixa longe, às vezes permanentemente.
Mas quem diria que muitas vezes caímos nesse abismo sem solução estando
realmente perto de alguém, estar longe, porém rodeados de amigos numa mesa de
bar, mas a verdade é que estamos sempre naquela sala de memórias que invade
nossa mente, viver assim é viver contradizendo.
Dói, aperta e sufoca, a solidão te abraça, estende a mão e
te protege, quem decide ser dominado por esse sentimento está sujeito a
enfraquecer até cair, ou ser forte o bastante pra fixar seus pés no chão. Mas
uma coisa é certa, é questão de tempo pros pés se soltarem e te fazer sentir
saudade de coisas que solidão nenhuma proporciona; felicidade e companheirismo,
compartilhar é a palavra chave. Sentir falta da televisão ligada e com conteúdo
bom o bastante pra te deixar vidrado nela, de um filme com uma pessoa especial,
sempre vai ter alguém pra dividir a pipoca de microondas e falar sobre nada,
basta aceitar-mos essa companhia. Saudade de ver o telefone tocar e ouvir a voz
de alguém que não lembra, mas por simpatia pede como foi seu dia, a sensação
empolga, ser lembrado quando tu já esqueceste significa ser marcante. Ser
convidado para festas e esquecer qualquer ferida que o tempo não cicatrizou,
ah, como seria bom compartilhar esse sofá.
Solidão não é estar completamente sozinho, é se sentir vazio
e vago, é não conseguir e nem querer compartilhar felicidade, e até muitas
vezes, a tristeza, que também esvazia esse pobre coração. Solidão também é
esquecer que tem amigos, é deixar passar o tempo que te adoece em um sofá
qualquer, mas e o controle remoto? Onde ele está? Bom, ele está longe demais
pra alcançá-lo, me falta ânimo pra ligar a televisão e chamar a felicidade mais
pra perto.
Não é impossível ser feliz sozinho, a questão é: até quando?
Não é impossível ser feliz sozinho, a questão é: até quando?