Powered By Blogger

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O canto, o controle e o sofá.



A televisão está desligada, e o controle remoto que cessaria o silêncio daquela sala de memórias está longe demais pra alcançá-lo, ou só seja mais uma dessas desculpas que damos pra nós mesmos pra deixar tudo como está, que cena deplorável. A agenda telefônica indica a falta de amigos, ou melhor, a abundância deles.

Sentir-se sozinho não é uma sensação agradável que preenche o coração, do contrário te esvazia e te deixa longe, às vezes permanentemente. Mas quem diria que muitas vezes caímos nesse abismo sem solução estando realmente perto de alguém, estar longe, porém rodeados de amigos numa mesa de bar, mas a verdade é que estamos sempre naquela sala de memórias que invade nossa mente, viver assim é viver contradizendo.

Dói, aperta e sufoca, a solidão te abraça, estende a mão e te protege, quem decide ser dominado por esse sentimento está sujeito a enfraquecer até cair, ou ser forte o bastante pra fixar seus pés no chão. Mas uma coisa é certa, é questão de tempo pros pés se soltarem e te fazer sentir saudade de coisas que solidão nenhuma proporciona; felicidade e companheirismo, compartilhar é a palavra chave. Sentir falta da televisão ligada e com conteúdo bom o bastante pra te deixar vidrado nela, de um filme com uma pessoa especial, sempre vai ter alguém pra dividir a pipoca de microondas e falar sobre nada, basta aceitar-mos essa companhia. Saudade de ver o telefone tocar e ouvir a voz de alguém que não lembra, mas por simpatia pede como foi seu dia, a sensação empolga, ser lembrado quando tu já esqueceste significa ser marcante. Ser convidado para festas e esquecer qualquer ferida que o tempo não cicatrizou, ah, como seria bom compartilhar esse sofá.

Solidão não é estar completamente sozinho, é se sentir vazio e vago, é não conseguir e nem querer compartilhar felicidade, e até muitas vezes, a tristeza, que também esvazia esse pobre coração. Solidão também é esquecer que tem amigos, é deixar passar o tempo que te adoece em um sofá qualquer, mas e o controle remoto? Onde ele está? Bom, ele está longe demais pra alcançá-lo, me falta ânimo pra ligar a televisão e chamar a felicidade mais pra perto.

Não é impossível ser feliz sozinho, a questão é: até quando?

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Correspondência

Eu te mandei uma carta esperando uma resposta que acordasse meu coração e fizesse tudo mudar, nada mudou. Te propus meu sentimento através de um envelope que não deve ter chegado no destino certo, no teu coração, é assim que prefiro pensar, pois cogitar a passibilidade de que tu simplesmente não correspondeu, ou nem sequer leu o conteúdo dessa carta faz as minhas pernas tremerem, e o meu coração fica novamente ferido.

Seria uma solução corresponder aquele tal sujeito que preenche minha culpa por me olhar a tantos anos? E se eu pensar muito além eu sei que estou na mesma situação que ele, com a caixa do correio vazia e um coração transbordando amor não correspondido, o que existe lá são aquelas propagandas de amor barato que todo mundo recebe e não ousa dar a atenção que deviam, eu nunca nem sequer as li.

Mas será que eu também sou essa propaganda barata que ele nunca leu? O conteúdo da minha carta é tão fraco assim pra penetrar teu coração? Foi um desperdício de papel. Minhas pernas estão dançando sem meu comando, e o meu coração que nega a propaganda daquele tal sujeito agora fica atormentado todos os dias em que te vê. Já está cheio de amor esse coração violentado pela vida? É um sentimento tão complexo esse tal de amor que eu não ouso dar atenção todas as vezes que eu vejo ele no meu correio, aquelas tais propagandas que ninguém nunca leu. Os pares estão invertidos e nunca vamos aprender a dançar aquelas músicas de casais apaixonados, não há ninguém contemplando essa melodia no salão.

O sujeito entrega a carta que eu nunca li, eu sou a propaganda que ele nunca correspondeu, e ele? O que faz esse miserável? Bom... ele se diverte com os selos que muitas vezes são repetidos.
Uma última lambida pra ter certeza de que a carta está devidamente lacrada, mais uma propaganda em direção ao teu correio, mais um selo pra divertir teu ego.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Furto



Não merecia tanta surra, pobre garota.
Tive certeza absoluta: as marcas em seu peito dessa vez seriam minhas
Do contrário me pareceu não se importar com minha teoria de desculpas
Na verdade torceu pra que me visse ao lado desse indecente, a culpa é toda sua.
Furtei algo que lhe pertencia há muito tempo
Absorvi a dúvida e o seu sentimento de desprezo
Sou sua amiga, mas meu coração agiu sem pensar.
Numa solidão precária, eu me vejo agora no teu lugar,
Roubei tua má sorte, queria muito te ver num merecido peito,
Existem coisas nessa vida que eu não aprendi a controlar.

Nos últimos dias pareceu gostar de olhos novos
Aliviou minha consciência, mesmo sabendo que tenho culpa.
Ajudou-me a tomar o rumo que ela mesma queria seguir
Andei na calçada que nunca me pertenceu
Acabou sendo feliz, e meu coração entristeceu.
Desabo-me em palavras não ditas, e sabe que apesar de tudo,
Eu roubei um amor que por muito tempo te adoeceu
Quando vem me visitar nesse quarto onde só existe luto?




quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A carta de um coração gelado.

A carta de um coração gelado

Lembro da nossa despedida
Minhas mãos tão geladas aconchegadas nas tuas
Desculpe-me meu amor, mas dessa vez eu vou embora.
Não tenha pressa em me ver, não pense que o tempo demora.
Não esqueça de viver, não existem motivos pra querer partir.
É lindo como nos conhecemos, e os teus olhos azulados ainda me iluminam.

Eu já não estava mais lá enquanto rezavam
Estava sereno e feliz como sempre fui visto
Eu pude sentir a angústia de cada rosto preocupado
Não houve ocasião em que teu cansaço esteve mais explícito
Minha ausência não passa de crenças
Sabe que sou teu coração agora, não de deixarei em desamparo.
Sabe que não estou mais ao toque da pele, mas eu nunca deixei de ser o teu amado.
Precisam de ti na tua dimensão que não é mais a minha
Eu preciso da tua segurança, eu preciso do teu desapego.
Não esqueça de manter teus olhos azulados acesos
Deixe-me descansar em paz, viverás bem sozinha.
Lembranças do teu amado e avise os nossos netos que me tornei estrela.

Trilhos desconhecidos.


Tive uma decisão precisa e intensa
Deixei de ser estação pra me ver passageira
Parei de viver esperando alguém chegar
Implorando pra bilheteria esgotar.
Não são boatos que parei na última estação, são apenas evidências
Dei um fim a esse ciclo na qual não me dei o luxo ganhar.

Levo lembranças ocultas em malas de trabalho
Não pretendo deixa-las invadir no meu céu que começa a colorir
Sempre fiquei na cabine sem luz alguma
Andando sem perspectiva, presa num passado escravo.
Meu trem não soube resistir.

Dizem por aí que não sei trocar olhares
Falam também que tenho mérito em fracassar
Estou com esperanças dessa vez
Espero ter aprendido a forma certa de amar.
Sou teoria, não vai saber mudar minha alma de maquinista.
Saí da zona de conforto esperando não voltar pra cabine alguma
Vou fazer algo audacioso, talvez grande demais
Sou maquinista oculta, ou passageira tentando te guiar.

Penso em entrar no teu vagão e me permitir ficar
Mas nunca vi um trem de tanta exigência
Quando vai parar de lutar contra mim?
Saia da cabine e cumprimente tua nova passageira.
Esperei até agora pra dizer que não quero descer em estação alguma
Tive que implorar pra seguir essa viagem duvidosa de pé
Dei lugar a pessoas que possam valer mais pra ti
Não tem idéia do quanto sou insegura.
Quero ver algo além das tuas regras, enxergar a alma desse maquinista,
Estou curtindo tua cabine, estou curtindo tua indecência.
Nada é um ritual, até meu vagão cansou de vagar.