Lembro-me muito bem desse momento, eu estava sozinha na frente do palco, dançando e cantando músicas da qual eu não costumo escutar e apreciar, mas eu me divertia assim mesmo. Meus irmãos estavam bebendo e eu definitivamente não sou uma boa companhia nessas horas, já que nunca senti o gosto do álcool na minha boca, então eu estava sozinha, sem amigos, sem pais, sem irmãos; completamente sozinha. Foi quando eu olhei pra trás a procura da minha irmã, já que meu pai estava procurando por ela, foi quando me deparei com um sujeito me olhando, que por sinal tinha um sorriso muito bonito - sim, ele estava sorrindo pra minha direção- virei logo pra frente e fingi que não havia acontecido nada, até porque não tinha mesmo. Olho sem querer pra trás de novo e ele estava ligeiramente mais perto de mim dessa vez, continuava sorrindo, tive certeza de que era pra mim, olhei pra frente desconcertada e podia sentir um sorriso de canto na minha boca que se abriu involuntariamente. Quando me dei por conta ele estava do meu lado dançando, eu achei aquela situação engraçada já que ele dançava muito mal, mas o mais engraçado disso tudo foram as tentativas frustradas dele de me puxar pra dançar, foi quando tive que avisa-lo que meu pé estava machucado e que dançar era uma das coisas da qual eu não podia fazer daquele jeito. Foi quando ele se abaixou no meio daquela multidão pra olhar o meu pé mais de perto, se prontificou de tirar todas as latinhas que podiam me machucar e avisou todas as pessoas que estavam passando ao nosso redor para tomarem cuidado por onde pisam, pois havia uma guria com o pé machucado do lado dele. Eu achei ele diferente, todos os guris nas quais tentaram ficar comigo naquelas noites de carnaval pouco se importaram com meu pé, não sorriam pra mim antes de me pedir um beijo, e não dançavam estranho pra fazer eu me sentir a vontade em dançar de um jeito estranho também, não, ele foi o único e eu nem sabia o seu nome. Me senti cansada de ficar em pé e ele logo se prontificou em me levar pra caixa de som e me deixar sentada lá enquanto ia ao banheiro. Lembro que ele deixou comigo o seu chapéu de palha da banda verde e prata -descobri dias atrás que era pra eu não fugir dele auhuheuhe- minutos depois ele voltou e logo em seguida tocou Anna Júlia, dos Los Hermanos.
Eu fiquei eufórica, pedi ajuda dele para descer e dancei como se nunca tivesse machucado meu pé, ele dançou e cantou junto comigo, parecia que nos conhecíamos há muito tempo, foi quando conversamos pela primeira vez. Seu nome era Sandro e ele tinha 19 anos, fiquei espantada já que ele tinha carinha de 16 -e também porque eu só tinha 15 anos- Falamos diversas bobagens, até que ele se aproximou de mim, foi quando eu me adiantei e lhe abracei sem pensar muito no que estava fazendo e na promessa que quebraria poucos instantes depois. Sempre fui uma guria de iniciativas, tanto para mudanças quanto para relacionamentos, nunca tive medo de me declarar abertamente, nunca tive medo de ser quem eu era, foi quando ele se abaixou e parecia querer dizer alguma coisa no meu ouvido e de novo lá estava eu lhe poupando de tomar a iniciativa e falar algo que eu possivelmente não gostasse, foi quando eu lhe roubei um beijo. Não foram borboletas no estômago, meu pé não se levantou involuntariamente, não foi um beijo de novela, foi melhor que isso, ele foi real. E a realidade pra mim é muito mais bonita do que fantasias não realizadas